“Queríamos tanto salvar o outro.
Amizade é matéria de salvação.
Mas todos os problemas já tinham sido tocados,
todas as possibilidades estudadas.
Tinhas apenas essa coisa que havíamos procurado
sedentos até então e enfim entrado:
Uma amizade sincera.”
Clarice Lispector
Assistir aos atos concentrados dos Prêt-à-porter dos atores-criadores de Antunes Filho, depois ver esta peça que vem de Minas Gerais pela Cia Luna Lunera, ajuda a reconhecer certos traços que vem a definir um teatro contemporâneo mais inventivo que se desenha no Brasil contemporâneo. Um teatro que aspira à comunicação com o público, mas sem cair na armadilha da encenação fácil, porque mais centrado no ator, reduzindo os demais elementos a um mínimo que tenciona para, da contenção, extrair o máximo de expressividade. Tudo o que não é pouco.
"Aqueles dois", apresentado pela companhia mineira, realiza tal proeza, avançando onde o Prêt-à-porter por vezes derrapa, por certa carência de ousadia que parece residir na crença demasiada, de que o menos é sempre mais. Assim ocorre quando a contenção excessiva represa o gesto criador em esquemas e limitações impostos à encenação. Não me contradigo. Aqui e ali, a criação nas mãos dos atores, a pesquisa, o adensamento no gesto e na palavra, com o diferencial, no caso da Cia Luna Lunera, do risco de encenar um texto literário sem vertê-lo exatamente em texto dramático.
O conto "Aqueles dois", que dá nome à peça, é um dos textos mais conhecidos de Caio Fernando Abreu, penúltima narrativa de seu livro Morangos Mofados. A trama é de fácil apreensão: dois rapazes, Raul e Saul, recém-contratados em uma repartição, desenvolvem um forte vínculo de amizade que evolui, de maneira ambígua, para um envolvimento amoroso. Embora não se concretize sexualmente, tal relacionamento fará com que sejam banidos do emprego. Solidão, amor, repressão sexual, perda e intolerância são questões urdidas nesta narrativa para além da problemática homossexual.
Leia o texto completo escrito por Eduardo de Araújo Teixeira e publicado na Revista Questão de Crítica..
Nenhum comentário:
Postar um comentário